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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

Júlio Rey-Colaço (Tânger, 1844 – Tânger, 1900)

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Júlio Jorge Maria Tomás Rey Colaço foi agente diplomático no Consulado Geral de Portugal em Tânger, durante o exercício de seu tio e cônsul José Daniel Colaço (de 1869 a 1896).

O arabista era filho de Maria de Los Dolores Colaço e de Paul Rey, negociante francês assassinado em Tânger, em 1854, quando substituía o cônsul de França. A título de indemnização, o governo francês concedeu à família um subsídio que permitiu a Júlio, o filho mais velho, estudar no Colégio Imperial de Marselha. Terminados os seus estudos e de volta ao Norte de África, serviu como intérprete no exército francês na Argélia durante alguns anos. Em Orã estaria prometido à sua prima Camille Marie Joseph, sem que, porém, o projeto de casamento se tenha concretizado. Logo após o seu regresso a Tânger, Júlio Rey Colaço sucumbiu a um desequilíbrio mental, agudizando-se o distúrbio de dupla personalidade de que sofria desde tenra idade.

Publicadas em 2004 como parte do volume biográfico Os Colaço: uma família portuguesa em Tânger (2004, 175-203), “Memórias tangerinas”, escritas originalmente em 1921 por Alexandre Rey Colaço (1854-1928), que veio a ser um célebre compositor e pianista, confirmam a proficiência linguística de Júlio. Alexandre descreve o irmão como um admirável tradutor, com um domínio do Árabe comparável aos dos nativos tahaleb. Refere ainda a sua colaboração com o padre franciscano José María Lerchundi (1836-1896), um importante arabista espanhol, na elaboração de uma gramática árabe publicada em Madrid no ano de 1872, com o título Rudimentos del árabe vulgar que se habla en el Imperio de Marruecos, com numerosos ejercicios y temas aplicados á la teoria. Alexandre afirma mesmo que foi Júlio Colaço o autor de “toda a parte puramente árabe do livro” e que o Pe. Lerchundi se teria limitado a polir o texto em Castelhano e a coordenar a edição; ainda assim, não existe qualquer prova documental da suposta coautoria de Colaço na obra.

Correspondia-se, entre outros, com o espanhol Pascual de Gayangos y Arce (1809-1897), à época diretor da biblioteca do Mosteiro Escorial, detentora de uma vasta coleção de manuscritos orientais, e professor de Árabe na Universidade de Madrid, posição que ocupou entre 1843 e 1871, tendo este em 1859-1860 aí acolhido como seu discípulo Augusto Soromenho.

Na lista de trabalhos para o X Congresso Internacional de Orientalistas, com realização prevista para Lisboa em 1892, reproduzida por João de Deus Ramos (1996, 189) com base em documentos encontrados no espólio de Gonçalves Viana, tanto Júlio como José Daniel Colaço se apresentaram com duas comunicações em coautoria: (1) Descripção da Batalha de Alcacer-Kebir (texto árabe e tradução); (2) Versão do Prólogo do Livro Arabico Intitulado “Fruto dos Imperadores e Recreio dos Engenhosos”. A título individual, Júlio Rey Colaço ter-se-á ainda inscrito na secção de Estudos Árabes e Islão do mesmo congresso com um terceiro trabalho: (3) Traduction française de quelques-uns des premiers chapitres de l’ouvrage arabe du Cheikh Chehab-ed-Din Ahmed El-Abchihy, intitulé El Moustertref fî kulli fenn moustadhraf et composé vers la fin du XIV siècle. O congresso de Lisboa, com o caráter de estatutário, nunca chegou a realizar-se e as razões para o seu cancelamento nunca foram devidamente esclarecidas. Dos três trabalhos indicados, nenhum chegou a ser publicado, embora o texto Alcacer-Kebir se destinasse a impressão, como prova o registo da lista de obras para impressão na Imprensa Nacional relativo ao ano de 1892. O manuscrito deste trabalho encontra-se no fundo particular de Cristóvão Aires no Arquivo Histórico Militar, em Lisboa. Já o manuscrito da tradução francesa faz parte da coleção de reservados da biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa; trata-se de um trabalho bilingue, com apresentação simultânea da tradução francesa, relativamente emendada, e do texto árabe de partida.

Também em 1892, Júlio Rey Colaço preparou um trabalho para o primeiro Congresso Espanhol de Africanistas, em Granada – “Traducción de la Makáma de Haríri, titulada la Sahania”.

 

Ver Dicionário de Orientalistas de Língua Portuguesa,
https://orientalistasdelinguaportuguesa.wordpress.com/julio-rey-colaco/

Obra publicada

1894. Sesiones literarias ó Almakamat por Alharirí. – Ensayo de una primera traducción castellana por Don Julio Rey Colaço. In Primer Congreso Español de Africanistas. Actas y memorias. Granada: Tip. Hospital de Santa Ana, 109-136.

Manuscritos

COLAÇO, José Daniel, e Júlio Rey COLAÇO. 1901 [1892]. Ms. Alcacer-Kebir. Esboço por Jose Daniel Colaço. Descripção arabe da batalha traduzida em collaboração com o interprete Julio Rey Colaço. Arquivo Histórico Militar, Fundo Particular Cristóvão Aires, cx. 344, doc. 26.

REY, Jules. 1892. Ms. Traduction française pour le Congrès international d’orientalistes de Lisbonne du mois de septembre 1892 de quelques-uns des premiers chapitres de l’ouvrage arabe du Cheikh Chehab-ed-Din-Ahmed El-Abchihy intitulé El Moustertref fî kulli fenn moustadhraf et composé vers la fin du XIV siècle. Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, Res. 3 – C – 22.

 

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última atualização em novembro de 2018