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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

André Paulo de Andrade (Parra, c.1834 – Parra, 1908)

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André Paulo d’Andrade, brâmane católico, era natural de Parra, no concelho de Bardez, em Goa. Estudou Latim e Filosofia em escolas particulares, tanto em Parra como em Mapuça, e frequentou o Seminário de Chorão, extinto em 1859. Antes de seguir para Bombaim, importante cidade da Índia britânica onde veio a viver quase toda a sua vida, passou ainda por Pangim. Em Bombaim, aperfeiçoou a língua inglesa no reputado Wilson College, porventura tendo já em vista o acesso ao Grant Government Medical College, uma das principais instituições indianas dedicadas ao ensino de medicina ocidental. Ali se formou médico-cirurgião em 1859. Logo nesse ano foi nomeado cirurgião-assistente e adido ao hospital Sir Jamsetjee Jeejebhoy, sendo depois transferido para Bandorá, em Salcete, de cuja enfermaria pública, a Mahim Infirmary, foi responsável. Em 1870 foi nomeado médico-cirurgião assistente num hospital recém-criado em Bombaim especializado no tratamento e prevenção de doenças venéreas femininas. A partir de 1874, ter-se-á iniciado na prática privada. Sócio da Medical Society do Grant College, deu inúmeras palestras no âmbito da obstetrícia e publicou trabalhos sobre o tema no periódico Transactions of the Medical and Physical Society of Bombay, em que também Gerson da Cunha imprimiu alguns estudos seus.

A par da atividade médica e da publicação de artigos na sua especialidade clínica, foi articulista em diversos jornais de Bombaim e deu também voz a outras preocupações intelectuais. Publicou pela tipografia do semanário Anglo-Lusitano um estudo em defesa das explorações portuguesas em África, em que avalia a rede hidrográfica e a topografia local, com base nas expedições científicas de Serpa Pinto. Interessou-se também pelo estudo da língua vernácula de Goa, o Concani.

Foi no âmbito do X Congresso Internacional de Orientalistas, que deveria ter tido lugar em Lisboa entre os dias 23 de setembro e 1 de outubro de 1892, que Andrade deu a conhecer essa sua faceta menos conhecida, ao submeter para publicação, na série de trabalhos de tributo ao congresso que foi cancelado de véspera, um estudo linguístico sobre o Concani, A Few Passing Words on the Koncani Dialect as Spoken in Goa. Era sua tese que o Concani seria uma mistura de diferentes formas corruptas de Sânscrito e não de Marata, como geralmente se supunha, e que ao longo dos séculos teria, contudo, assimilado muitos vocábulos da última língua. Andrade argumentava que o Concani se teria conservado no seu estado mais “puro” entre os cristãos nativos de Goa, uma vez que estes estavam proibidos de se relacionarem com os Hindus, que falavam a língua marata. O autor defendia ainda a cultura e promoção da língua concani entre os católicos goeses, através de um método de ensino, tanto da escrita como da leitura, que fizesse uso do alfabeto devanagárico a par do alfabeto romano.

Ainda no campo das letras presidiu, muito provavelmente entre 1883 e 1908, ao Instituto Literário de Ornellas, que foi fundado em 1883 na cidade de Pune, a segunda maior do estado indiano de Maharashtra.

 

Bibliografia selecionada do autor

1888. Explorações Antigas e Modernas da Africa: introducção ao estudo da hydrographia africana. Bombaim: Typographia do Anglo-Lusitano.
1891. Explorations portugaises en Afrique. Revue française de l’étranger et des colonies et exploration. Gazette géographique XIII (109, 1 jan.): 106-107. Disponível em https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k106290j.
1892. A Few Passing Words on the Koncani Dialect as Spoken in Goa. Bombay: Family Printing Press.
 
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última atualização em março de 2019