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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

Charles Ralph Boxer (Sandown, 1904 – Hertfordshire, 2000)

Charles Ralph Boxer
Fotografia de Charles Boxer em Angkor Thom, 20 maio 1958. © Coleção Boxer, cx. 7. Cortesia Lilly Library, Indiana University, Bloomington, Indiana.
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Filho de Jane Patterson e do tenente Hugh Edward Richard Boxer, Charles Ralph Boxer fez os primeiros anos de escolaridade num convento católico, na ilha de Gibraltar. Seu pai estava aí destacado e esta permanência permitiu à família visitar tanto Tânger com Espanha. Em 1914 o tenente Hugh Boxer foi enviado para Bermuda, e com apenas 10 anos Charles Ralph regressou a Inglaterra, onde continuou a sua formação. Quatro anos mais tarde entrou para o Wellington College (Bershire), seguindo-se mais três anos de estudos, como cadete do exército no Royal Military College (Sandhurst). Entre 1923 e 1947, foi incorporado como segundo-tenente no regimento do Lincolnshire e durante este período aprofundou o estudo da história dos impérios português e holandês, nomeadamente nos séculos XVI-XVII.

De forma a desenvolver esta área de trabalhos, em 1924 começou a aprender as línguas portuguesa e holandesa, a explorar o arquivo do Rijksarchief de Hague e a contactar com especialistas que se debruçavam sobre aqueles impérios marítimos. Dois anos depois visitou Lisboa e pesquisou no Arquivo Nacional da Torre do Tombo e na Biblioteca Nacional.

Ao longo da sua vida Boxer integraria várias instituições académicas onde os temas que o interessavam eram amplamente debatidos. Encontramo-lo na Hakluyt Society (1923), na Sociedade de Geografia de Lisboa (1926), na Academia das Ciências de Lisboa (1949), na Academia Britânica (1957) ou ainda na Academia da China (Taiwan, 1966). Mas regressemos à década de 1920 e ao facto de Boxer, ainda em Inglaterra, conhecer Edgar Prestage, o qual, desde 1923, ocupava no King’s College (Londres) a Cátedra Camões, espaço único no panorama académico britânico onde se ensinava a História de Portugal. Por volta de 1927, conheceu Fr. George Schurhammer S.J., que o auxiliaria no conhecimento da história e dos arquivos da Companhia de Jesus.

Os seus trabalhos são acolhidos por reputadas publicações e a estadia, entre 1930 e 1933, no regimento de infantaria n.º 38 em Nara, no Japão, permitiu-lhe ver in loco os espaços asiáticos. Em 1933 foi intérprete oficial da língua japonesa no exército britânico e, mesmo depois de ter concluído esta sua missão, visitou Xangai, Amoy, Hong Kong, Cantão e Macau. Nesta última cidade portuguesa conheceu o reputado historiador padre Manuel Teixeira, prosseguindo a sua viagem por Manila, Ternate, Tidore, Banda, Amboíno e Batávia (Jacarta), antes de regressar a Inglaterra onde iria continuar ao serviço da coroa britânica. Em 1936, em plena guerra sino-japonesa, Boxer serviu em Hong Kong como oficial nos serviços de inteligência britânicos. A proximidade com Macau permitiu-lhe continuar a investigar nos arquivos locais. A 8 de dezembro de 1941, já com o posto de major e sendo senior intelligence officer, foi ferido durante um ataque japonês e encarcerado durante quatro anos. Após a sua libertação, a que se seguiu uma curta estadia nos Estados Unidos da América, integrou a delegação britânica da Comissão para o Extremo-Oriente, regressando, em fevereiro de 1946, ao Japão. No ano seguinte demitiu-se do exército e passou a ocupar a Cátedra Camões no King’s College (Londres), onde permaneceu durante 20 anos. Aí deveria essencialmente investigar e proferir algumas conferências, sendo estes os anos mais profíquos da sua extensíssima obra. Entre 1951-1953 lecionou História do Extremo Oriente na Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres (SOAS).

A Cátedra permitiu-lhe fortalecer os contactos nos EUA, tendo sido diretor da Hispanic Foundation da Livraria do Congresso e consultor para as aquisições desta instituição. A permanência no King’s College facilitou a obtenção de apoios institucionais, ao abrigo dos quais se deslocou a vários países, nomeadamente ao Brasil, onde conheceu todo um conjunto de renomados historiadores. Em 1950, Charles Boxer integrou a organização do primeiro dos colóquios Luso-Brasileiros, espaço de debate privilegiado sobre, entre outras temáticas, a história dos impérios. No ano seguinte e na companhia do historiador Carlos Azevedo, visitou os arquivos goeses e as cidades de Baçaim, Chaul, Surate, Damão e Diu, conhecendo o historiador indiano Panduranga S.S. Pissurlencar.

Já em Cambridge e durante o XXIII Congresso Internacional de Orientalistas (1954), Boxer reencontrou António da Silva Rego, com quem estivera na Índia, e José Maria Braga, com quem já colaborara. Neste encontro Boxer apresentaria a comunicação “Diogo de Couto’s Unpublished Account of Angkor”, tratando um dos cronistas que considerava ser um dos primeiros orientalistas.

Entre 1955 e 1961, Charles Boxer fez algumas viagens a África e em 1963 a sua obra Race Relations in the Portuguese Empire provocaria acesa polémica em Portugal, pois a sua análise entrava em conflito como a visão oficial sobre a expansão portuguesa.

A reforma chegou em 1967, altura em que Charles Boxer se mudou para os EUA. Aí ensinou, como professor visitante, na Universidade de Indiana (Bloomington) e foi conselheiro da direção da Biblioteca Lilly. Entre os anos de 1969 e 1972, lecionou História da Expansão Europeia na Universidade de Yale e nos anos seguintes a sua atividade desenvolver-se-ia entre a escrita e a realização de conferências. Em maio de 1970 regressou a Inglaterra, morrendo em abril de 2000 aos 96 anos, em Hertfordshire.

Além dos títulos honoris causa, dados pelas universidades de Utrecht (1950), Lisboa (1952), Federal da Bahia (1959), Liverpool (1966), Hong Kong (1971) e Peradeniya (1980), recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique (Portugal, 1962), o título de Cavaleiro Papal da Ordem de São Gregório Magno (1969), a Medalha de Ouro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1986), a Medalha Caird do Museu Nacional Marítimo da Inglaterra (1989) ou a Ordem de Santiago da Espada (Portugal, 1989).

 

Bibliografia selecionada do autor

1961. Four Centuries of Portuguese Expansion, 1415-1825: A Succinct Survey. Johannesburg: Witwatersrand University Press.
1962. The Golden Age of Brazil, 1695-1750: Growing Pains of a Colonial Society. Berkeley & Los Angeles: University of California Press.
1963. Race Relations in the Portuguese Colonial Empire, 1415-1825. Londres: Oxford University Press.
1965. The Dutch Seaborne Empire, 1600-1800. Londres: Hutchinson.
1969. The Portuguese Seaborne Empire: 1415-1825. Londres: Hutchinson.
1975. Mary and Misogyny. Women in Iberian Expansion Overseas, 1415-1815Some Facts, Fancies and Personalities. Londres: Oxford University Press.
1978. The Church Militant and Iberian Expansion – 1440-1770. Baltimore: Johns Hopkins University Press.
1980. Portuguese India in the Mid-Seventeenth Century. Deli: Oxford University Press.
1986. Portuguese Merchants and Missionaries in Feudal Japan, 1543-1640. Londres: Variorum Reprints.
1989. Couto, Diogo do. In Dicionário de História de Portugal, vol. II. Direção de Joel Serrão. Porto: Livraria Figueirinhas, 226.
1991. Estudos para a História de Macau: séculos XVI a XVII. Lisboa: Fundação Oriente.
1997. Senado da Câmara de Macau. The Municipal Council of Macau. Macau: Leal Senado.

APA e AN
última atualização em julho 2021