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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

António Lopes Mendes (Vila Real, 1835 – Lisboa, 1894)

António Lopes Mendes
Retrato de António Lopes Mendes, extraído do volume primeiro de A Índia Portuguesa, de 1886, publicado pela Imprensa Nacional/Sociedade de Geografia de Lisboa. © Internet Archive, https://archive.org/.
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Filho de António Lopes Mendes e de Maria Emília Cardoso, António Lopes Mendes frequentou o liceu de Vila Real e em 1853 entrou na Academia Politécnica do Porto, concluindo, mais tarde, os seus estudos no Instituto Agrícola (Lisboa). Ainda estudante regeu uma disciplina de desenho e, em 1857, integrou a comissão de estudos agrícolas, elaborando nos dois anos seguintes a planta topográfica de Venda do Alcaide. Após obter o seu diploma de médico-veterinário-lavrador (1859), foi nomeado administrador da recém-criada coudelaria nacional do Crato, cuja atividade se iniciaria em 1860.

Entretanto, o então governador geral da Índia, António César de Vasconcelos Correia, consultou o Instituto Agrícola com o intuito de que esta instituição lhe indicasse um nome para integrar um grupo de trabalho destinado a programar medidas de restruturação do sector agrícola e florestal. António Lopes Mendes foi o indicado e em 1862 partiu para Goa como veterinário-lavrador no Estado da Índia, contratado pelo Conselho Ultramarino. Neste mesmo ano, Lopes Mendes começou a colaborar no semanário ilustrado Archivo Pittoresco, sendo que alguns dos seus desenhos seriam reimpressos na Historia de Portugal Popular e Illustrada (1869-1874), de Pinheiro Chagas.

Na Índia, Lopes Mendes desempenharia diferentes missões, integrando, por exemplo, em 1863, a comissão para o estudo das florestas nacionais da Índia Portuguesa ou colaborando na redação do regulamento florestal. O facto de, em 1864, participar na comissão de engenheiros militares que reorganizaria os cultivos das terras de Satary levou-o a publicar, ainda nesse ano, o livro Apontamentos sobre a Provincia de Satary do Estado da India Portugueza.

A par de outros trabalhos, em fevereiro de 1865 foi nomeado vogal da comissão que deveria escolher os produtos agrícolas e industriais a serem enviados para a Exposição Internacional de Paris (1867). Além de outras missões, Lopes Mendes desenhou várias plantas topográficas das aldeias de Satary e coordenou a elaboração da sua carta topográfica, ocupou interinamente a administração da 2.ª divisão e a presidência da comissão de demarcação dos terrenos de Satary, foi procurador da Junta Geral de Distrito pela 4.ª divisão das Novas Conquistas, presidente do município na capital do Estado e vogal substituto do conselho do governo. Durante o seu percurso profissional colaborou sempre com a imprensa periódica, seja escrevendo e/ou desenhando para o Archivo Rural (Lisboa), o Archivo Pittoresco (Lisboa) até à extinção do mesmo, As Colonias Portuguezas (Lisboa), A Harmonia – Jornal politico, litterario e commercial (Nova Goa), o Chronista de Tissuary, o Almanach Litterario (Nova Goa), a Illustração Goana (Nova Goa), O Occidente (Lisboa), A Imprensa (Lisboa) e Le Brésil (Paris).

Em 1871, Lopes Mendes regressou a Lisboa e três anos depois saiu uma monografia intitulada O Bussaco, resultado de uma viagem que fez a esta região com o seu amigo Augusto da Silva Matos. Este último escreveria o referido texto, elaborando Lopes Mendes a planta e os desenhos. Ao longo da sua vida foi acolhido em várias agremiações científicas, como a Bombay Branch of the Royal Asiatic Society, a Sociedad Geographica Argentina, a Real Associação Central de Agricultura Portuguesa ou a Sociedade de Geografia de Lisboa.

No ano de 1879 tomou posse como deputado eleito às cortes pelo círculo de Mapuça, Damão e Diu, e em 1881 a Sociedade de Geografia de Lisboa, instituição que o apoiou ao longo da sua carreira, financiou uma expedição à Serra da Estrela, tendo Pinho Leal, que o acompanhou nesta viagem, publicado sobre a mesma uma série de artigos no Commercio Portuguez. Neste mesmo ano, Lopes Mendes entregaria à Sociedade de Geografia de Lisboa o manuscrito de A India Portugueza: breve descripção das possessões portuguezas na Asia, que seria editado em 1886.

Entre outubro de 1882 e setembro de 1883, residiu no Rio de Janeiro, visitando Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Uruguai, Argentina, Chile e Perú. Através de desenhos e cartas que enviou aos amigos foi transmitindo as suas impressões de viagem. A partir de 1883 iniciou-se a publicação no já referido periódico O Occidente de algumas dessas suas cartas. Além das missivas, em 1892 a Imprensa Nacional e a Sociedade de Geografia editariam o opúsculo O Oriente e a America: apontamentos sobre os usos e costumes dos povos da India Portugueza comparados com os do Brazil. Este texto publicitava a palestra que Lopes Mendes esperara apresentar no X Congresso Internacional de Orientalistas (1892), que tinha sido cancelado. No ano seguinte, no Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa, começaram a ser impressas as cartas que ele, entretanto, doara à Instituição.

Um dia depois de ter feito 59 anos, António Lopes Mendes faleceu, a 31 de janeiro de 1894, em Lisboa, a cidade aonde sempre regressava.

 

Bibliografia selecionada do autor

1864. Apontamentos sobre a Provincia de Satary do Estado da India Portugueza. Nova-Goa: Imprensa Nacional.
1874. [coautoria com Augusto C. da Silva Matos] O Bussaco. Lisboa: Lallemant Frères.
1886. A India Portugueza: breve descripção das possessões portuguezas na Asia, 2 vols. Lisboa: Imprensa Nacional. Disponível em https://archive.org/details/indiaportuguezab01lopeuoft e https://archive.org/details/indiaportuguezab02lope/.
1892. O Oriente e a America. Apontamentos sobre os usos e costumes dos povos da India portugueza comparados com os do Brazil. Memória apresentada à X Sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas. Lisboa: Imprensa Nacional.

 

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última atualização em julho 2021