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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

René Basset (Lunéville, 1855 – Argel, 1924)

René Basset
© Carlo Conti Rossini. 1928. Storia d’Etiopia, vol. 1. Milão: Officina d’Arte Grafica A. Lucini, 20.
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Reputado orientalista francês, especialista em línguas árabe e berbere, agraciado com inúmeras distinções, René Marie Joseph Basset distinguiu-se também no âmbito dos estudos etiópicos e coadjuvou diversas comunidades de orientalistas, entre as quais a portuguesa, sobretudo através da divulgação e do incentivo ao trabalho de jovens promissores.

Entre 1873 e 1880, estudou na École nationale des langues orientales vivantes, em Paris, especializando-se em línguas semíticas como o Árabe, o Etiópico e o Egípcio, mas também em línguas indo-europeias, como o Persa ou o Turco. Em abril de 1880, aos 24 anos de idade, foi encarregado de lecionar um curso de Árabe numa das escolas mais conceituadas da época, a École supérieure des lettres em Argel. Em 1885, tornou-se professor de Língua e Literatura Árabes; mais tarde, em 1894, foi promovido a diretor. Entre 1921 e 1924, dirigiu o Institut des hautes études marocaines (IHEM), com sede em Rabat, fundado em 1920 e ativo até 1957.

Basset realizou inúmeras missões e viagens científicas para estudar a diversidade dos dialetos berberes; dedicou-se à recuperação e tradução de fontes (sobretudo árabes e etiópicas) e publicou um número impressionante de recensões nas mais variadas revistas de especialidade. A sua extensa colaboração em periódicos é espelho das redes intelectuais europeias e africanas por onde se movimentou. Pela sua intensa atividade científica obteve várias nomeações para sócio de academias e sociedades nacionais e internacionais, que dão conta do prestígio de que gozava. Destacamos, nesse sentido, a Société Asiatique de Paris; a Royal Asiatic Society de Londres, de que foi membro honorário a partir de 1906 e em cujo periódico, The Journal of the Royal Asiatic Society, muitos dos seus estudos foram recenseados; e a Académie des sciences coloniales, em Paris, de que foi membro fundador em 1922 e que cessou atividade em 1957, durante o auge da guerra da independência argelina. Em Portugal, ligou-se, a partir de 1890, à Sociedade de Geografia de Lisboa, na qualidade de membro correspondente, bem como à Academia das Ciências de Lisboa, enquanto sócio correspondente (estrangeiro) da segunda classe.

Sobretudo entre 1886 e 1912, René Basset esteve ativo como membro dos Congressos Internacionais de Orientalistas, onde marcou presença na qualidade de representante ora do governo francês ora da delegação da Argélia. No âmbito da sessão convocada para ter lugar em Lisboa, em 1892, veio a publicar um trabalho de levantamento bibliográfico, Notice sommaire des manuscrits orientaux de deux bibliothèques de Lisbonne (1894), resultante de uma curta passagem pela capital portuguesa em janeiro de 1888, onde teve a oportunidade de consultar os arquivos da Biblioteca Nacional e da biblioteca da Academia das Ciências. Em 1905, não apenas presidiu à organização do XIV Congresso Internacional de Orientalistas, que decorreu em Argel, como ali representou diversas instituições, nomeadamente a Sociedade de Geografia de Lisboa. Da lista de membros deste evento constavam os nomes de Francisco Maria Esteves Pereira e David Lopes, para além do de Mendes dos Remédios, de quem foi recebida tão-só uma subscrição individual.

René Basset mantinha ligações assíduas com Esteves Pereira, que foi seu protégé, e com David Lopes, estando publicada alguma da correspondência que com eles trocou. O primeiro chegou a fazer pesquisa bibliográfica e inclusive cópias de manuscritos de auxílio à investigação desenvolvida pelo orientalista francês. Foi, aliás, por parecer favorável de Basset, juntamente com o de Barbier de Meynard, vice-presidente da Société Asiatique de Paris, que Esteves Pereira foi nomeado membro desta prestigiada instituição em janeiro de 1888. Pelo menos entre 1898 e 1913, René Basset correspondeu-se com David Lopes, cuja obra chegou a recensear. Com ele não apenas trocou informações sobre os Congressos Internacionais de Orientalistas, como também debateu questões relativas aos dialetos árabes e berberes. Numa carta de 26 de setembro de 1905, decorridos cinco meses após a realização do encontro de Argel, Basset manifesta o seu pesar se David Lopes viesse a ser forçado a abandonar os estudos árabes. Nesta mesma missiva, propõe-se a apresentá-lo a orientalistas que pudessem ajudá-lo a finalizar a edição do manuscrito da crónica árabe Al-Hulal al-mawchiyya. Através de Basset, David Lopes começou a corresponder-se com Alfred Bel (1873-1945), diretor da madraça de Tremecém (Argélia). Não há, porém, registo de que essa edição tenha sido concluída ou publicada por Lopes. Houve sim, em 1936, uma edição da crónica por Ichoua Sylvain Allouche, financiada pelo instituto que Basset dirigiu, o IHEM.

 

Bibliografia selecionada do autor

1882. Études sur l’histoire d’Éthiopie. Paris: Imprimerie Nationale.
1886. Mélanges d’histoire et de littérature orientales, 2 vols. Louvain: Typographie de Charles Peeters/Imp. Lefever.
1887. Recueil de textes et de documents relatifs à la philologie berbère. Alger: P. Fontana. 
1894. Notice sommaire des manuscrits orientaux de deux bibliothèques de Lisbonne. Mémoire destiné à la 10ème session du Congrès international des orientalistes. Lisbonne: Imprimerie Nationale. Disponível em http://purl.pt/6406.
1894. Études sur les dialectes berbères. Paris: Ernest Leroux.
1899. Rapport sur les langues africaines (1891-1897). In Actes du onzième Congrès international des orientalistes, Paris – 1897. Cinquième, sixième et septième sections, Égypte et Langues Africaines. – Orient-Grèce, Byzance, Ethnographie et Folk-lore de l’Orient, vol. 5. Paris: Ernest Leroux, 53-70.
1902. Rapport sur les études berbères et haoussa (1897-1902). Présenté au XIII Congrès des orientalistes à Hambourg. Paris: Imprimerie Nationale.
1907. Le nom du chameau chez les Berbères. In Actes du XIVe Congrès international des orientalistes, Alger – 1905. Deuxième partie. Paris: Ernest Leroux, 69-82.
1913. Mission au Sénégal: recherches historiques sur les Maures. Paris: Ernest Leroux. 
1913. Notes sur la langue de la Guinée au XV siècle. Coimbra: Imprensa da Universidade.
1915. Mélanges africains et orientaux. Paris: Jean Maisonneuve & Fils Éditeurs.

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última atualização em julho de 2020