José António Dias Coelho (Lisboa, 1858 – Lisboa, 1940)
A revisão é para a arte tipográfica, o que a alma é para o corpo humano.
Henri Estienne (1785)
José António Dias Coelho, ilustre compositor tipográfico especialista em carateres orientais, foi admitido como aprendiz-compositor na Imprensa Nacional a 26 de fevereiro de 1873, tinha então 15 anos. A partir de 1877, começou a executar trabalhos em caracteres orientais de forma exímia e com primor, o que veio a valer-lhe rasgados elogios da parte quer dos autores com quem colaborava quer da Imprensa Nacional. Com efeito, terá sido no final desse ano que começou a frequentar lições de Sânscrito, com o professor Guilherme de Vasconcelos Abreu, muito provavelmente no âmbito do curso promovido em anexo ao Curso Superior de Letras, tendo como colegas Consiglieri Pedroso, Ernesto da Silva (filho de Joaquim Possidónio Narciso da Silva) e Gonçalves Viana, entre outros. Segundo o testemunho de Vasconcelos Abreu, a Imprensa Nacional estava, através de Dias Coelho, "habilitada a compor e imprimir qualquer texto oriental, em caracteres devanágricos, ethíopes, árabes, hebraicos, syríacos, persas" (1891, 54). Gonçalves Viana confirma a sua excelência na composição tipográfica em correspondência trocada com o linguista alemão Hugo Schuchardt (1842-1927), ao apresentá-lo como "o mais habil compositor da Peninsula" (carta de 6 de outubro de 1888).
A partir de 1891, Dias Coelho tornou-se chefe de secção da Imprensa Nacional. Esteve envolvido na composição e impressão de quase todos os trabalhos que saíram do prelo dessa sociedade no âmbito do X Congresso Internacional de Orientalistas, em 1892, que não chegou a ter lugar em Lisboa. Para além de ter assegurado a composição dos trabalhos de Vasconcelos Abreu, Dias Coelho esteve também envolvido na impressão de textos de outros reputados orientalistas, tais como Francisco Maria Esteves Pereira, Sebastião Rodolfo Dalgado e David Lopes. É, com efeito, uma presença constante nos agradecimentos das obras destes autores.
Ascendendo a chefe dos serviços de revisão da Imprensa Nacional a 22 de outubro de 1900, a Dias Coelho se deve a reforma da ortografia portuguesa em 1911, por ter sido o seu principal instigador. A 17 de dezembro de 1910, oficiou Luís Derouet (1880-1927) alertando para a anarquia ortográfica que proliferava pelas publicações da Imprensa Nacional e assinalando a importância de proceder à uniformização da ortografia portuguesa. A 14 de janeiro de 1911, Luís Derouet, subscrevendo o apelo de Dias Coelho, oficiou o Diretor Geral de Instrução Secundária Superior e Especial. Um mês depois, a 15 de fevereiro de 1911, o Ministro do Interior António José d’Almeida nomeava uma comissão para fixar as bases ortográficas da língua portuguesa, constituída por Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Gonçalves Viana, Cândido de Figueiredo, Francisco Adolfo Coelho e José Leite de Vasconcelos.
José António Dias Coelho reformou-se a 4 de junho de 1922. Não foi um intelectual, não tendo, por isso, deixado qualquer tipo de legado escrito. No entanto, este indivíduo serviu a comunidade orientalista portuguesa, ao desempenhar um papel importante na comunicação e disseminação, com qualidade, da investigação produzida por orientalistas portugueses no final do século XIX e primeiras décadas do século XX.