Charles Lucas (Paris, 1838 – Paris, 1905)
Charles Lucas distinguiu-se como arquiteto. Frequentou a École des beaux-arts de Paris a partir de 1856, onde foi aluno dos arquitetos Achille Lucas (1811-1889), seu pai, e de Simon-Claude Constant-Dufeux (1801-1871), assim como a École pratique des hautes études, no departamento de Antiguidades Greco-Romanas. Na qualidade de arquiteto, serviu o então Príncipe das Astúrias e foi subinspetor das Obras Públicas de Paris. Serviu também como perito no tribunal civil de Paris e no Conselho de Prefeitura do Sena. Desenvolveu, paralelamente, trabalho no âmbito da arqueologia, como se confirma pelas suas publicações e participação em congressos e associações científicas nesse campo.
Foi membro do sindicato francês para a proteção da propriedade intelectual e delegado da Société libre des beaux-arts no Congresso Internacional Arqueológico de Bonn, em setembro de 1868, onde terá contactado pela primeira vez com o trabalho de Joaquim Possidónio Narciso da Silva, arquiteto da Casa Real Portuguesa. Ali tomou conhecimento do seu estudo Mémoire de l’archéologie sur la véritable signification des signes qu’on voit gravés, publicado nesse mesmo ano de 1868, sobre o significado dos signos maçónicos, alguns de natureza egípcia, patentes em monumentos antigos de Lisboa.
Em correspondência de março de 1869 com Possidónio da Silva, a qual pode ser consultada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, ofereceu-se para se tornar membro correspondente estrangeiro da Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos Portugueses e da Academia Real de Belas-Artes de Lisboa. A 17 de julho de 1869, tornou-se sócio correspondente estrangeiro (n.º 231) da Real Associação dos Arquitetos Portugueses e, mais tarde, a 20 de outubro de 1870, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa. Em virtude desta colaboração e da publicação do livro L’Architecture en Portugal: mélanges historiques et archéologiques (1870), foi-lhe atribuído o título de Cavaleiro da Ordem Real de Cristo de Portugal. Nesse livro, que dedica ao rei D. Luís I, faz várias referências a Possidónio da Silva e à sua importância para a elaboração da obra, dedicando-lhe o terceiro ponto da última parte do livro, intitulado “Un architecte portugais contemporain”.
Aquando da criação dos Congressos Internacionais de Orientalistas, e por conta das suas ligações institucionais a Portugal, o arquiteto francês figurou como parte da comissão internacional da primeira sessão (em Paris, 1873) na qualidade de delegado do comité regional português. Desconhecem-se, porém, quais seriam as suas incumbências. Na segunda sessão do Congresso em 1874, em Londres, apresentou-se como membro estrangeiro por França. Quatro anos mais tarde, em 1878, o seu nome volta a constar da lista de membros do Congresso Internacional de Orientalistas, desta vez em Florença, embora, nas atas, tenha sido marcado como ausente e não se identifique a nação que estaria a representar. Em 1891, surge novamente como delegado pela Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos Portugueses no IX Congresso dos Orientalistas, de Londres, que seria posteriormente renomeado como Congresso Estatutário, mas também aqui foi marcado como ausente.
Em 1877, fora um dos secretários da quinta sessão do Congresso de Arquitetos Franceses, na École des beaux-arts, em Paris. Em 1878 e 1889 foi também secretário do Congresso Internacional de Arquitetos na qualidade de membro do comité permanente; em ambas as sessões, em Paris, o amigo Possidónio Narciso da Silva terá sido condecorado, na primeira com a medalha de prata, na segunda com uma de níquel. Mais tarde, em 1897 e 1900, Lucas foi vice-presidente da quarta e quinta sessões deste Congresso, que tiveram lugar em Bruxelas e Paris, respetivamente. Entretanto, em 1881, voltou a publicar sobre Portugal com o título Étude sur quelques monuments portugais, elaborado com base em notas de Possidónio da Silva e apresentado previamente no Congresso Internacional dos Arquitetos, em Paris, a 3 de agosto de 1878.
A correspondência intensa e regular que trocou com Possidónio Narciso da Silva, a partir de 1869, mostra que Charles Lucas serviu muitas vezes de intermediário (local) entre o arquiteto português e o fundador dos Congressos Internacionais de Orientalistas, o japonólogo Léon de Rosny (1837-1914), junto de quem representava, muitas vezes, os interesses de Portugal por delegação direta de Narciso da Silva. Também a pedido deste, Charles Lucas terá, por diversas ocasiões, servido de cicerone a amigos do arquiteto português que se encontrassem de passagem por Paris.
Para além de participar em vários encontros científicos, como fica patente pelos trabalhos que publicou em diversas atas, Charles Lucas coordenou ainda uma importante coleção de biografias de arquitetos civis, Biographie universelle des architectes célèbres, cujo primeiro, e afinal único, fascículo saiu em 1868. Foi membro da Academia Real de Belas-Artes de San Fernando, em Madrid, e chegou a ser condecorado Cavaleiro da Ordem Real de Carlos III de Espanha.
Bibliografia selecionada do autor
1868. [coautoria com Alexandre Du Bois] Biographie universelle des architectes célèbres. Paris: Imprimerie Générale de CH. Lahure.
1870. L’Architecture en Portugal: mélanges historiques et archéologiques. Paris: Ernest Thorin, Éditeur.
1875. Architecture et archéologie: Caïus Mutius et les temples de l’Honneur et de la Vertu, à Rome. 2e étude antique. Sep. Annales de la Société centrale des architectes 1 (1874), vol. 1. Paris: Librairie Centrale de l'Architecture et des Travaux Publics, Ducher et Cie.
1881. [coautoria com Paul Sédille] Étude sur quelques monuments portugais. Sep. Compte rendu sténographique du Congrès international des architectes (1878). Paris: Imprimerie National.
1900. Relation d’un voyage de Berlin à Constantinople, par François Blondel, sieur des Croisettes et de Gallardon (novembre-décembre 1658). Sep. Bulletin de géographie historique et descriptive (1899). Paris: Imprimerie Nationale.
última atualização em março de 2018