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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

António da Silva Túlio (Carnide, 1818 – Lisboa, 1884)

António da Silva Túlio
© 1884. O Occidente VII (183, 21 de jan.): 17, http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Ocidente/1884/N183/ N183_item1/index.html.
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António Joaquim da Silva Túlio distinguiu-se pela sua missão ao serviço das letras nacionais. A 28 de dezembro de 1836, entrou como escriturário para o cartório do solicitador Francisco José de Caldas Aulete, travando relações com homens da cultura, como Almeida Garrett (1799-1854), António Feliciano de Castilho (1800-1875), Camilo Castelo Branco (1825-1890) ou Alexandre Herculano (1820-1877), de quem se tornou amigo íntimo. A 26 de abril de 1844 foi admitido como oficial para a repartição dos manuscritos da Biblioteca Nacional de Portugal. É muito provável que tenha sido nessa qualidade que travou contacto, pela primeira vez, com Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara. Por decreto de 31 de dezembro de 1863, Túlio tornou-se conservador na 2.ª repartição (História e Literatura) da Biblioteca Nacional. Terá sido nessa qualidade que serviu de cicerone a D. Pedro II, aquando da sua primeira grande viagem à Europa, ao acompanhá-lo numa visita às instalações da Imprensa Nacional, a 11 de março de 1872.

Em 1861, Túlio tornou-se membro da Comissão Central do 1.º de Dezembro de 1640, manifestando-se contra o iberismo que se fazia sentir na imprensa e na política portuguesas. A sua militância cívica já ficara bem patente no final da década de 1840, quando se juntou à Liga Promotora dos Interesses Materiais do País (1846-1849). Ainda em 1861, fez parte do grupo de alunos que inaugurou o Curso Superior de Letras, ao matricular-se, no dia 11 de janeiro, na classe de aluno voluntário. Ao Curso ficaria doravante ligado através da Academia Real das Ciências, a que se afiliou a 8 de novembro de 1862, ao ser frequentemente nomeado, em representação da Academia, membro do júri de provas de concursos para docência. Na Academia das Ciências, exerceu o importante cargo de administrador da Tipografia da Academia e também o de revisor literário. Pelas suas mãos terão passado trabalhos do amigo Castilho, de Augusto Soromenho, que conheceu através de Alexandre Herculano, de Inocêncio Francisco da Silva e João de Andrade Corvo (1824-1890).

Fez parte da comissão de censura do conselho de arte dramática, instituída em 1853, a qual, presidida por Mendes Leal (1820-1886), chegou a dirigir interinamente, pelo menos na década de 1860. Foi censor de peças destinadas a representação não apenas no Teatro Nacional D. Maria II, mas também em teatros de segunda ordem, como o Teatro do Ginásio, o Teatro do Príncipe Real, o Teatro da Rua dos Condes ou o Teatro das Variedades, estando ativo, nessa qualidade, até ao final da década de 1860 (veja-se a base de dados temática Teatro Proibido e Censurado em Portugal no Século XIX). Foi diretor e redator principal d’A Semana (1851-1852), diretor de redação do semanário ilustrado Archivo Pittoresco (1860-1865) e dirigiu temporariamente, em 1864, a Revista Contemporanea de Portugal e Brazil. Publicou trabalhos versando o estudo da língua portuguesa, tendo também demonstrado interesse pela investigação arqueológica e histórica.

Aos 55 anos, António da Silva Túlio associou-se, na qualidade de membro subscritor e em representação da Biblioteca Nacional de Portugal, à primeira delegação portuguesa do primeiro Congresso Internacional de Orientalistas, reunido em Paris em 1873, onde marcou presença o arquiteto da Casa Real, Joaquim Possidónio Narciso da Silva, como delegado nacional. Desta primeira lista de subscritores da participação portuguesa nos Congressos dos Orientalistas, fizeram parte, entre outros, Augusto Soromenho, o helenista António José Viale (1886-1889) – que lecionava Grego na Biblioteca Nacional – e Cunha Rivara.

Na sequência desta primeira reunião de orientalistas, o delegado nacional, incentivado pelo fundador do congresso, Léon de Rosny (1837-1914), desafiou Guilherme de Vasconcelos Abreu a constituir uma Associação Promotora do Desenvolvimento dos Estudos Orientais e Glóticos, que pretenderia colocar Portugal a par das demais nações no estudo das línguas orientais e no da ciência da linguagem. Embora não se conheçam resultados desta Associação, ela foi constituída e chegou a ser secretariada por Soromenho. Tal como os demais membros subscritores do Congresso dos Orientalistas de 1873, Túlio foi uma das figuras convidadas, por Narciso da Silva, para seu sócio. É provável que também tenha sido o próprio arquiteto, enquanto presidente da Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos Portugueses, a convidar Túlio a tornar-se sócio amador (número 339) desta instituição, para a qual entrou a 2 de julho de 1874.

O percurso profissional e as áreas de interesse científico de António da Silva Túlio levaram-no a ligar-se a diversas sociedades e academias científicas. Foi, entre outras, sócio do Instituto Vasco da Gama, cofundado por Cunha Rivara em Goa. Diversas foram também as distinções e condecorações com que foi agraciado, como a de cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito e a Medalha da Febre Amarela, em 1857, em virtude dos serviços prestados no combate à epidemia, ou a de comendador da Ordem da Rosa do Brasil.

Na Biblioteca Nacional de Portugal, conservam-se ordens de serviço e outros documentos relativos à gestão da Biblioteca assim como algumas cartas e notas do autor. Também no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, nomeadamente no fundo pessoal de Xavier da Cunha (1840-1920) e na Coleção Castilho, encontram-se documentos do espólio literário de António da Silva Túlio. 

 

Bibliografia selecionada do autor

1842. Commemorações. Antonio da Silveira e Menezes, o Heitor portuguez. Abril 7 de 1547. Revista Universal Lisbonense: jornal dos interesses physicos, moraes e litterarios por uma sociedade estudiosa 27 (3.ª da 3.ª série, 7 de abr.): 315-316.
1842. Commemorações. Abril 1 de 1574. Gaspar Barreiros – O Ptolomeo portuguez. Revista Universal Lisbonense: jornal dos interesses physicos, moraes e litterarios por uma sociedade estudiosa 26 (2.ª da 3.ª série, 31 de mar.): 305-307.
1842. Commemorações. Fr. Luiz de Sousa. Maio 5 de 1632. Revista Universal Lisbonense: jornal dos interesses physicos, moraes e litterarios por uma sociedade estudiosa 31 (7.ª da 3.ª série, 5 de mai.): 368-369.
1842. Commemorações. Um imperio que deos nos deu a crear. Abril 24 de 1500. Revista Universal Lisbonense: jornal dos interesses physicos, moraes e litterarios por uma sociedade estudiosa 29 (5.ª da 3.ª série, 21 de abr.): 341.
1844. [sob o pseudónimo de Fr. Gerúndio] Vida de Costa Cabral. Lisboa: Typ. M. J. Coelho.
1858. Estudinhos da lingua patria. Archivo Pittoresco: semanario illustrado II (39): 310.
1860. Introdução. In A Vida d’um Principe: estudo romantico-historico, de Eduardo Coelho. Lisboa: Typ. de J. da Costa, 5-7.

 

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última atualização em junho de 2019