António dos Santos Viegas (Covilhã, 1837 – Coimbra, 1914)
Conhecido como António dos Santos Viegas Júnior, estabeleceu-se em Coimbra e veio a distinguir-se como homem da ciência e, muito particularmente, como um dos principais fomentadores do ensino da Física Experimental em Portugal.
A 4 de outubro de 1853 matriculou-se nos cursos de Filosofia e Matemática na Universidade de Coimbra, recebendo o grau de bacharel a 07 de julho de 1857, o de licenciado a 30 de julho de 1859 e o de doutor a 30 de outubro de 1859. Foi na Universidade de Coimbra onde desenvolveu a sua carreira de docente na área das ciências naturais, mantendo-se no ativo até à data da morte.
Exerceu, e acumulou, diversos cargos administrativos na Faculdade de Filosofia daquela Universidade, nomeadamente os de Fiscal (1861-1867), diretor do Gabinete de Física (1865-1866 e 1880-1911), diretor da Faculdade de Filosofia (1880-1911) e diretor do Observatório Meteorológico e Magnético (1880-1911). Foi Reitor da Universidade de Coimbra entre 13 de janeiro de 1890 e 06 de agosto de 1892 e, por decreto de 17 de abril de 1906, entre esta data e 17 de abril de 1907. Em 1910, chegou a exercer as funções de Reitor Interino da Universidade durante apenas seis dias, entre 13 e 19 de outubro. Em virtude da sua missão ao serviço da Universidade de Coimbra, a Faculdade de Filosofia prestou-lhe homenagem a 17 de março de 1910, dia em que completou 50 anos de serviço. Em 1911, na fase final da sua carreira, Santos Viegas transitou da Faculdade de Filosofia para a Faculdade de Ciências.
Santos Viegas foi membro de várias associações e sociedades científicas nacionais, entre as quais o Instituto de Coimbra, de que se tornou sócio efetivo em 1859 e honorário em 08 de fevereiro de 1890, chegando a presidi-lo em 1885-1886 e colaborando no seu periódico O Instituto. Da Academia Real das Ciências de Lisboa foi sócio correspondente a partir de 07 de maio de 1877. Terá ainda sido sócio fundador da Société des électriciens de Paris (1883-1972) e da Società Sismologica italiana. Participou em congressos científicos um pouco por toda a Europa (Paris, Viena, Roma, etc.), sempre em representação de Portugal.
Correspondia-se com os seus pares da Universidade de Coimbra, entre os quais Bernardino Machado (1851-1944), bem como com o arquiteto da Casa Real Joaquim Possidónio Narciso da Silva. É através dele que se vincula ao Congresso Internacional de Orientalistas em virtude dos cargos diretivos desempenhados na Universidade de Coimbra.
Embora só se tenha associado oficialmente a um Congresso dos Orientalistas, o seu nome surge ligado a duas sessões: a de Londres de 1891 e a de Lisboa de 1892. Para o encontro de Londres, Santos Viegas remeteu, enquanto Reitor da Universidade de Coimbra, uma carta, em Latim, a felicitar a organização do evento, que ficaria conhecido na cronologia dos congressos como o Congresso Estatutário. Conforme informação patente em ata, a carta terá sido lida pelo secretário da comissão organizadora na sessão de abertura, a 1 de setembro de 1891. Para o congresso de Lisboa, cuja realização estava prevista de 23 de setembro a 1 de outubro de 1892, e apesar de ter sido desconvocado de véspera, foi eleito membro honorário, de acordo com a comunicação que remeteu a Possidónio Narciso da Silva a 11 de junho de 1892:
Em resposta ao estimado favor de V. Ex.ª, datado de hontem, cabe-me dizer a V. Ex.ª que, tendo sido convidado pela Direcção da Sociedade de Geographia para aceitar o titulo de Membro Honorario do Congresso Internacional dos Orientalistas, na 10.ª sessão, que ha de celebrar-se em Lisboa, respondi ao Ex.mo Presidente d’aquella Direcção, agradecendo e acceitando a honrosa distincção conferida na minha pessôa á Universidade de Coimbra, que tenho a honra de regêr.
Na lista impressa dos membros do Congresso acha-se ja incluido o Reitor da Universidade, e eu terei muita satisfação em contribuir por qualquer fórma para o bom exito do Congresso.
A litteratura oriental não entra nos programmas da nossa Universidade, e por isso não ha n’esta corporação pessôas, que se dediquem especialmente a esse genero de estudos; mas é natural que alguns professores da Universidade estimem tomar parte no Congresso, se para isso forem convidados individualmente pela Commissão Central da Organisação.
Com a maior consideração e estima subscrevo-me
Coimbra, 11-Junho-1892
A ligação deste homem da ciência aos Congressos Internacionais de Orientalistas é meramente formal, sobretudo no sentido de subscrição da qualidade científica do evento, e não de substância, isto é, de efetivo contributo, através da sua produção escrita ou atividade docente, para a consolidação de uma reflexão crítica sobre o orientalismo português ou dos Estudos Orientais em Portugal.
Bibliografia selecionada do autor
1859. Dissertação Inaugural para o Acto de Conclusões Magnas. Coimbra: Imprensa da Universidade.
1859. Theses Ex Natural Philosophia. Conimbricae: Typis Academicis.
1859. Dissertação Inaugural para o Acto de Conclusões Magnas. Coimbra: Imprensa da Universidade. Disponível em http://bdigital.sib.uc.pt/hc/UCSIB-5-56-19-3/globalitems.html.
1867. Viagem scientifica do Dr. Antonio dos Santos Viegas: primeiro relatório (Dezembro de 1866 a Maio de 1867). Diário de Lisboa 229 (10 de out.): 2966-2974. Disponível em https://digitalis.uc.pt/en/node/88109.
1868. Viagem scientifica do Dr. Antonio dos Santos Viegas: segundo relatório (Junho a Novembro de 1867). Diário de Lisboa 66 (21 de mar.): 553-559. Disponível em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/fundo_antigo/viagem_scientifica_do_dr_antonio_dos_santos_viegas_segundo_relatorio_junho_novembro_de.
AN e MPP
última atualização em agosto de 2018