D. Carlos I (Lisboa, 1863 – Lisboa, 1908)
Filho primogénito do rei D. Luís I (1838-1889) e de D. Maria Pia (1847-1911), D. Carlos casou com D. Maria Amélia de Orleães a 21 de maio de 1886, com quem teve dois filhos, Luís Filipe de Bragança (1887-1908) e Manuel de Bragança (1889-1932). Foi proclamado rei a 28 de dezembro de 1889, na presença do seu tio-avô, o então exilado D. Pedro II. Reinou durante o Ultimato Inglês de 1890 e até ao seu assassinato a 1 de fevereiro de 1908, em Lisboa, na sequência do golpe de Estado republicano de 28 de janeiro.
Seguindo o protocolo de a Casa Real apoiar a participação portuguesa em eventos científicos internacionais, foi sob o seu patrocínio que se iniciaram os preparativos para o X Congresso Internacional de Orientalistas, previsto para ter lugar em Lisboa em 1892. O seu pai, D. Luís I, estivera associado ao I Congresso dos Orientalistas (Paris, 1873) enquanto membro subscritor, ajudando assim a legitimar cientificamente não apenas o evento, mas também a delegação portuguesa constituída para o efeito. O X Congresso, organizado pela Sociedade de Geografia de Lisboa, da qual D. Carlos se tinha tornado protetor a 27 de setembro de 1890, estava planeado para decorrer entre 23 de setembro e 1 de outubro; no entanto, foi cancelado, poucos dias antes, a 10 de setembro, por alegados motivos sanitários relacionados com um surto de cólera na Europa. Embora o Congresso não tenha chegado a realizar-se, foi dada autorização régia para imprimir os trabalhos entretanto preparados, que saíram assim na Imprensa Nacional, às expensas do Estado.
O monarca dedicou-se a estudos de oceanografia, de que foi um dos precursores em Portugal, influenciado pela sua ligação próxima ao Príncipe Alberto do Mónaco (1848-1922), que se destacou na mesma área. D. Carlos inaugurou os seus trabalhos neste campo a 1 de setembro de 1886, ao iniciar campanhas científicas a bordo do iate Amélia, as quais se prolongaram até 1907 e resultaram em várias publicações. Em conformidade com os seus interesses científicos, o monarca apoiou a criação do Aquário Vasco da Gama pela Sociedade de Geografia em 1898, contribuindo para a sua coleção oceanográfica com materiais reunidos durante as suas campanhas, e em 1906 apoiou a criação da Escola Colonial.
Ainda no âmbito da oceanografia, D. Carlos I participou em exposições nacionais e internacionais, com destaque para a exposição realizada na Escola Politécnica (1897), organizou secções na Exposição Internacional do Porto (1902) e na Exposição Agrícola na mesma cidade (1903-1904), na Exposição Oceanográfica Internacional na Sociedade de Geografia (1904) e na Exposição Internacional de Milão (1906). Para além do Museu de História Natural de Paris, D. Carlos I terá enviado peças para o Museu Britânico e, postumamente, algumas terão sido exibidas no Rio de Janeiro, na Exposição Nacional Comemorativa do 1.º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, em 1908. A par da oceanografia, o soberano fez estudos de ornitologia, produzindo o Catalogo Illustrado das Aves de Portugal em dois volumes, em 1903 e em 1907.
Figura polifacetada, D. Carlos dedicou-se também à pintura e à fotografia. Chegou a apresentar à exposição da Sociedade Nacional de Belas-Artes de 1904 um estudo a pastel de uma figura guerreira de traços orientais. Trata-se do retrato O Marroquino, patente na Sala do Gigante no Museu-Biblioteca da Casa de Bragança, em Vila Viçosa. De entre os quadros que pintou (sobretudo aguarelas e pastéis, considerados espécimes do naturalismo português), mencione-se uma pintura em torno da pesca do atum na capitania do porto de Vila Real de Santo António, que foi objeto de um trabalho de recomposição em azulejo por Jorge Rey Colaço (1868-1942), filho do pintor orientalista José Daniel Colaço. D. Carlos participou em diversas exposições de pintura internacionais, entre as quais a de St. Louis (1904), onde lhe terá sido atribuída a medalha de ouro. O seu espólio fotográfico, com cerca de 3 000 fotografias, encontra-se conservado no Arquivo Fotográfico do Paço Ducal de Vila Viçosa. Entre 28 de fevereiro e 28 de abril de 1903, D. Amélia e os príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel realizaram uma viagem pelo Mediterrâneo com destino ao Cairo, que ficou documentada em fotografias, as quais foram recuperadas e agregadas no Álbum Fotográfico da Viagem da Rainha D. Amélia ao Egipto, tratado pelo Arquivo de Documentação Fotográfica da Direção-Geral do Património Cultural. Ao Museu Nacional de Belas-Artes doou a rainha uma coleção de antiguidades egípcias, que foram expostas na Sala S do museu.
Bibliografia selecionada do autor
1897. Yacht Amélia. Campanha oceanográfica de 1896. Lisboa: Imprensa Nacional.
1902. Bulletin des campagnes scientifiques accomplies sur le yacht “Amelia”. Lisbonne: Imprimerie Nationale. Disponível em http://purl.pt/25654.
1904. Resultados das Investigações Scientificas Feitas a Bordo do Yatch “Amelia”. Ichthyologia – II. Esqualos obtidos nas costas de Portugal durante as campanhas de 1896 a 1903. Lisboa: Imprensa Nacional.
CS
última atualização em outubro de 2019 (por MPP)