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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

Luciano Cordeiro (Mirandela, 1844 – Lisboa, 1900)

Luciano Cordeiro
Gravura por Francisco Pastor feita a partir de fotografia © 1886. A India Portugueza, vol. 1, de António Lopes Mendes. Lisboa: Imprensa Nacional/Sociedade de Geografia de Lisboa, xxv.
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Pouco depois do nascimento de Luciano Cordeiro a 21 de julho de 1844, a família mudou-se para Lisboa e, mais tarde, para o Funchal, regressando, de novo, à capital onde, de 1862 a 1868, completou os seus estudos, enquanto cumpria uma breve carreira naval. Formou-se no Curso Superior de Letras entre 1865 e 1867, onde foi aluno de Augusto Soromenho.

Entre 1871 e 1874, foi professor de Filosofia e Literatura no Colégio Militar, ao mesmo tempo que desenvolvia atividade política. Enquanto político, associou-se ao Partido Regenerador; foi eleito procurador à Junta Distrital de Lisboa em 1878 e deputado do círculo de Mogadouro na legislatura de 1882-1884 e pelo de Leiria em 1884.

Em 1875, cofundou, com o irmão Francisco Maria Cordeiro de Sousa e com outros intelectuais portugueses, como Cândido de Figueiredo e Sousa Viterbo, a Sociedade de Geografia de Lisboa, em cujo boletim publicou ativamente. Veio a ser membro de diversas coletividades científicas, literárias e artísticas, tanto nacionais como internacionais, de que a Sociedade de Geografia foi a mais relevante, sobretudo com a sua eleição como secretário perpétuo a partir de 1883.

Ainda em 1875, por decreto de 10 de novembro do Ministério dos Negócios do Reino, foi nomeada uma comissão com vista à reforma do ensino artístico em Portugal e à organização do serviço de museus, monumentos históricos e arqueologia, que veio a ser secretariada por Luciano Cordeiro sob a presidência do Marquês de Sousa Holstein. Por decreto de 9 de julho de 1892, Cordeiro foi nomeado inspetor das Escolas Industriais da Circunscrição do Sul. Chefiava já a Repartição de Instrução Superior da Direção-Geral da Instrução Pública (Ministério do Reino) e manteve-se no cargo de inspetor até 1899. Foi ainda coadministrador da Companhia dos Caminhos de Ferro da Zambézia (Moçambique), servindo-se da experiência adquirida com a fundação, em setembro de 1872 e na companhia do irmão Francisco Cordeiro, da Companhia Carris de Ferro de Lisboa.

Luciano Cordeiro esteve ativamente ligado à imprensa portuguesa, de tal forma que, em 1880, cofundou a Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses de Lisboa. Em 1869, foi diretor temporário do periódico político Revolução de Setembro; em 1873, foi diretor, juntamente com Rodrigo Afonso Pequita, da Revista de Portugal e Brasil (1873-1874); entre 1878 e 1880, foi editor (redator principal) do jornal Commercio de Lisboa; em 1880 foi colaborador e editor de O Globo Illustrado; e de 1886 a 1889 colaborou na redação da revista ilustrada As Colónias Portuguezas. Colaborou, com textos da sua autoria, em diversos periódicos, quer nacionais quer internacionais, como: Arte Portugueza: revista de archeologia e arte moderna (1895); Artes e Lettras (1873-1875); Boletim da Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portuguezes (1879); Chronica Moderna (1881); Revista de Estudos Livres (1883-1884); Journal of the Manchester Geographical Society (1886); O Occidente: revista illustrada de Portugal e do extrangeiro (1878, 1888, 1895, 1896); O Paiz; ou A Republica das Lettras (1875). Segundo outras fontes, terá ainda colaborado nos seguintes periódicos: A Actualidade; Clamour do Povo (1864); A Voz Academica (1865); O Commercio do Porto; Diário Illustrado; O Diario de Noticias (1872); O Jornal do Commercio; As Novidades (1892); Perfis Contemporaneos (1897); Portugal em Africa (1895); O ProgressoA Tarde (1898).

A par da intensa atividade como publicista, participou em inúmeros eventos científicos. Em 1878, marcou presença no Congresso de Geografia Colonial, em Paris, e em 1881 representou Portugal no Congresso Internacional de Ciências Geográficas, em Veneza. Em 1879, presidiu à exposição industrial portuguesa no Rio de Janeiro, onde o irmão Francisco Cordeiro residia desde 1864. Foi grande impulsionador das comemorações do 3.º centenário da morte de Camões em 1880, tendo também participado no 1.º centenário da morte do Marquês de Pombal, em 1882, e no 4.º centenário da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, em 1898. Em 1899, o conselheiro Luciano Cordeiro fez parte do 7.º Congresso Internacional de Geografia, em Berlim, na qualidade de delegado português. Já em 1884 Portugal fizera-se por ele representar na Conferência de Berlim, que decorreu entre 15 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885, juntamente com António de Serpa Pimentel, António José da Serra Gomes (Marquês de Penafiel), Carlos Roma du Bocage, José P. Ferreira Felício e Manuel de Sousa Coutinho.

A sua associação aos Congressos Internacionais de Orientalistas não seria, portanto, inesperada. Além de constar da lista de membros do congresso de 1876 (São Petersburgo), de que foi subscritor ao lado de seu irmão Francisco, foi secretário executivo do Congresso Internacional de Orientalistas previsto para acontecer em Lisboa, entre 23 de setembro e 1 de outubro de 1892, o qual acabou, porém, por ser cancelado. Ali estaria previsto apresentar quatro trabalhos, entretanto publicados pela Imprensa Nacional, nomeadamente: Diogo d’Azambuja; Batalhas da Companhia de Jesus na sua Gloriosa Provincia do Japão pelo Padre Antonio Francisco Cardim; De Como e Quando Foi Feito Conde Vasco da Gama; e Diogo Cão.

Luciano Cordeiro recebeu inúmeras insígnias e conderações portuguesas (como a insígnia da Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos Portugueses ou a de oficial da Ordem de Santiago por mérito científico, literário e artístico em 1878) e estrangeiras, sendo de assinalar as que se relacionam com territórios na Ásia, como o diploma de comendador da Ordem Imperial do Dragão de Annam, do Protetorado de França (Vietname), em 22 de julho de 1889, e em 1898 o diploma de grande oficial da Ordem de Osmânia da Turquia. Recebeu ainda diplomas de coletividades de beneficência, mas essencialmente comerciais, industriais e de classe (jornalistas e escritores).

 

Ver também Dicionário de Historiadores Portugueses,
http://dichp.bnportugal.pt/historiadores/historiadores_cordeiro.htm

 

Bibliografia selecionada do autor

1878. Cours colonial portugais. Projet présenté au gouvernement portugais. Lisboa: Imprensa de J. H. Verde.
1878. LHydrographie africaine au XVIe siècle daprès les premières explorations portugaises: lettres à M. Le président de la Société de géographie de Lyon. Lisboa: Imprensa de J. H. Verde.
1883. A Questão do Zaire – direitos de Portugal. Memorandum. Lisboa: Lallement Frères.
1883-1884. A campanha contra as descobertas portuguezas. Revista de Estudos Livres I (10): 448-451.
1892. Diogo Cão. Memoria apresentada á 10.ª sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas. Lisboa: Imprensa Nacional. Disponível em https://purl.pt/38572.
1892. Diogo de Azambuja. Memória apresentada á 10.ª sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas. Lisboa: Imprensa Nacional. Disponível em https://purl.pt/38600.
1892. De Como e Quando Foi Feito Conde Vasco da Gama. Memoria da 10.ª sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas. Lisboa: Imprensa Nacional. Disponível em https://purl.pt/38599.
1894. Batalhas da Companhia de Jesus na sua Gloriosa Provincia do Japão, deAntónio Francisco Cardim. Inédito destinado à X sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas. Lisboa: Imprensa Nacional. Disponível em https://purl.pt/26223https://archive.org/details/batalhasdacompan00card.
1896. Vésperas do Centenário. O último padrão de Diogo Cão. Lisboa: Imprensa Nacional.

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última atualização em fevereiro 2022