TECOP
Textos e Contextos
do Orientalismo Português

Jerónimo Pinheiro de Almeida da Câmara Manuel (Lisboa, c.1859 – [Lisboa], 1915)

PDF Perfil completo

 

 

Natural de Lisboa, Jerónimo da Câmara Manuel nasceu por volta de 1859. Inscreveu-se na qualidade de aluno voluntário no Curso Superior de Letras, a 2 de outubro de 1880, com 21 anos de idade, concluindo-o a 6 de junho de 1883. Ali teve aulas com Guilherme de Vasconcelos Abreu e Francisco Adolfo Coelho.

Em 1885 trabalhou na Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, tornando-se, no mesmo ano, segundo-oficial da direção política desse ministério. Entre 1887 e 1889 exerceu funções no gabinete do ministério de Henrique de Barros Gomes (1843-1898), sob a presidência de Ernesto Hintze Ribeiro (1849-1907). Em 1891 colaborou com José Barbosa du Bocage (1823-1907) na redação de notas diplomáticas para o Livro Branco dos negócios externos portugueses relativo ao Ultimato Inglês de 1890; auxiliou o conselheiro Pedro de Carvalho (ajudante do Procurador-Geral da Coroa) nos trabalhos sobre a questão dos caminhos-de-ferro de Lourenço Marques, sujeitos à avaliação do Governo da Confederação Suíça; e em 1895 fez parte da comissão encarregada de organizar os trabalhos para a arbitragem de Manica (Moçambique) e delimitação da fronteira franco-portuguesa no Congo. Em 1897 ascendeu a chefe de secção.

Tornou-se primeiro secretário interino da Legação Portuguesa em Londres em 1900 e primeiro secretário efetivo em 1901. Assegurou interinamente a gestão da Legação entre 1900 e 5 de outubro de 1910, na ausência do ministro Luís Maria Pinto de Soveral, marquês de Soveral (1851-1922). A partir dessa data, e até 8 de abril de 1911, foi encarregado dos negócios internos, sendo da sua responsabilidade a emissão de cerca de 68 ofícios até ao dia 31 de dezembro de 1910 e de 121 até 8 de abril de 1911 (data em que Manuel Teixeira Gomes [1860-1941] tomou posse do seu cargo de enviado extraordinário e ministro plenipotenciário em Londres). Nesses ofícios, Jerónimo da Câmara Manuel mostra-se particularmente atento às notícias referentes à situação política, à perturbação da ordem pública e às greves em Portugal, à questão dos serviçais em São Tomé e Príncipe e em Angola, bem como aos miguelistas e à família proscrita (Afonso e Vladimiro 1982, 721). Em 1912 exercia funções de chefia da Repartição de Expediente e do Arquivo do Gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros.

No âmbito de colaborações com associações científicas, tornou-se sócio ordinário da Sociedade de Geografia de Lisboa em 1883, com o número de registo 826, e correspondente nacional do Instituto de Coimbra em 1903, em sessão de 28 de fevereiro. É de salientar que exerceu as funções de secretário da secção de Geografia Política da Sociedade de Geografia, pelo menos até 1889, e, também, de vice-secretário da Sociedade entre pelo menos 1900 e 1902. Em 1895 figurou como secretário-adjunto dessa instituição, sendo que, no respetivo Boletim n.º 4 desse mesmo ano, Luciano Cordeiro dedicou tanto a Câmara Manuel como a Ernesto de Vasconcelos (1852-1930), secretário anual da Sociedade, o trabalho “O thesouro do Rei Fernando – Historia anecdotica de um tratado inedito (1369-1378)”. Foi da sua iniciativa que partiu a proposta de celebração do quarto centenário do descobrimento do Brasil, integrada nas atividades da Comissão Americana e apresentada à Sociedade em sessão ordinária de novembro de 1899.

Em 1892, contava-se com a presença de Jerónimo da Câmara Manuel no X Congresso Internacional de Orientalistas, em Lisboa. Para além de ocupar o cargo de secretário adjunto da comissão central de organização do evento, estava previsto apresentar a comunicação Missões dos Jesuítas no Oriente dos Séculos XVI e XVII. Apesar de o evento não ter chegado a acontecer, o trabalho que preparou veio a ser publicado em 1894 pela Imprensa Nacional, e nele reuniu nove cartas escritas por S. Francisco Xavier e por si anotadas. O interesse pela Índia não se limitou a esse estudo, vindo a publicar, quatro anos mais tarde, o ensaio India: descobrimento da civilização árya-hindu.

Colaborou na Revista Portugueza Colonial e Maritima como secretário de redação, de 1897 a 1904, nela publicando diversos artigos e assinando, por vezes, a secção bibliográfica.

Jerónimo da Câmara Manuel faleceu a 22 de maio de 1915, provavelmente na capital lisboeta.

 

Bibliografia selecionada do autor

1894. Missões dos Jesuítas no Oriente nos Séculos XVI e XVII: trabalho destinado á X sessão do Congresso Internacional de Orientalistas. Lisboa: Imprensa Nacional.
1898. India: descobrimento da civilização árya-hindu. Sep. Revista Portugueza Colonial e Maritima II (8). Lisboa: Livraria Ferin. 
1909. Portugal e a Inglaterra: Londres e os seus monumentos. Conferência lida em sessão especial da Sociedade de Geographia de Lisboa, em 3 de Abril de 1909. Lisboa: Ferin.
1913. Inglaterra: sua constituição política e sua importância agricola, industrial e comercial. Conferência realizada sem sessão especial da Sociedade de Geographia de Lisboa, em 14 de maio de 1913. Lisboa: Tipografia Universal.

AN e CS
última atualização em outubro de 2018