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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

Francisco de Meneses Meireles de Távora do Canto e Castro (Angra do Heroísmo, 1850 – Oeiras, 1915)

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Francisco Meireles do Canto e Castro nasceu no seio de uma família nobre, ligada à política e à alfândega. Iniciou os seus estudos na terra natural, matriculando-se posteriormente na Escola Politécnica de Lisboa. A 27 de outubro de 1874 foi aprovado no concurso de segundos oficiais e cônsules de 1.ª classe e, no ano seguinte, ingressou na administração pública. 

No mesmo ano de 1875, logo após contrair matrimónio com Maria Carlota da Costa Freitas, muda-se para a ilha de Moçambique, onde veio a ser nomeado diretor da Alfândega de Moçambique e feito membro da Junta de Justiça e vogal do Conselho de Província. Em 1878, foi transferido para Lourenço Marques e, um ano depois, em 1879, tornou-se adjunto do comissário régio na Índia portuguesa, o conselheiro António Augusto de Aguiar (1838-1887). Acompanhou-o na assinatura do tratado aduaneiro entre Portugal e a Grã-Bretanha, o qual regulamentava o funcionamento das alfândegas na Índia. Para isso, partiu rumo a Goa, onde desempenhou um papel relevante na mediação entre as alfândegas da Índia portuguesa e da Índia britânica. Pouco depois, Francisco Meireles foi promovido a administrador-geral das alfândegas do Estado Português da Índia, função que terá acumulado com a direção da alfândega de Macau. 

A 2 de outubro de 1882 foi nomeado cônsul-geral de Portugal em Bombaim. A sua vivência entre a Índia portuguesa e a Índia britânica suscitou o interesse de um importante estudioso de crioulos, o linguista alemão Hugo Schuchardt (1842-1927), que nele encontrou uma fonte de acesso privilegiado a materiais linguísticos, como dá conta a escassa correspondência preservada entre ambos (ver https://schuchardt.uni-graz.at/). Em 1889, foi promovido a segundo oficial cônsul na Índia britânica e, no final do ano, ascendeu a primeiro oficial. Em 1890, quando as relações entre os governos português e britânico entram em crise na sequência do Ultimato Inglês, foi exonerado do cargo e nomeado cônsul-geral de Portugal em Bremen e Stettin (Alemanha), operando simultaneamente como cônsul de 1.ª classe e adido comercial junto da embaixada portuguesa em Berlim.

De volta à capital portuguesa, a 20 de maio de 1892 foi nomeado secretário-geral da Companhia de Moçambique em Lisboa e em 1894 retornou àquele país africano na qualidade de governador dos territórios de Manica e Sofala, que se encontravam então sob a administração da Companhia. A 15 de janeiro de 1897, viu firmada a sua renomeação como governador desses territórios, os quais atravessavam um período de grande tensão, que culminaria na Segunda Guerra Anglo-Boer (1899-1902). Francisco Meireles socorreu-se da sua diplomacia e prática conciliatória para mediar, mais uma vez, as relações entre portugueses e britânicos, mantendo-se no seu posto até ao fim da guerra. Pela sua atuação político-diplomática foi-lhe atribuído o grau de cavaleiro e comendador da Ordem (britânica) de São Miguel e São Jorge, que lhe valeu o título de sir; também o rei D. Carlos decretou, a 9 de maio de 1902, a concessão do título de visconde de Meireles.

É com o título de Visconde que aparece inscrito no XIII Congresso Internacional de Orientalistas, que decorreu em 1902, na cidade alemã de Hamburgo. Ali representou o governo português na qualidade de adido comercial à Legação de Portugal em Berlim. Não há, porém, registo de que tenha apresentado ou publicado qualquer trabalho no âmbito deste encontro, que contou com a participação efetiva de David Lopes. A sua associação ao Congresso terá sido sobretudo formal. Não obstante, deve-se reconhecer-lhe um certo orientalismo diletante, que sobressai sobretudo nas crónicas de viagem que escreveu, em 1894, para a revista A Leitura, as quais são pouco conhecidas. Por ocasião do malogrado X Congresso de Orientalistas, em 1892, coubera a seu tio, Alexandre Távora do Canto e Castro (1827-1896), ex-magistrado na Índia, o convite para integrar o comité executivo do evento.

Em 1903, Francisco Meireles é enviado para a América do Sul, ao ser nomeado ministro plenipotenciário em Buenos Aires e Montevideu. Reformou-se da vida diplomática em 1908, nas Balcãs. 

Colaborou em periódicos como o Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), o Anglo-Lusitano (Goa), a Revista Geographica e o Jornal das Colónias, que fora propriedade de seu pai, André Francisco Meireles de Távora do Canto e Castro, e que ajudou a revitalizar. As suas afiliações a instituições e sociedades científicas estiveram alinhadas com este perfil de funcionário colonial. Foi sócio do Instituto de Coimbra (1887), da Sociedade de Geografia de Lisboa (1876) e da Sociedade Martins Sarmento.

 

Bibliografia selecionada do autor

1890. Emigração indo-portugueza para Moçambique. Anglo-Lusitano (n.º 193), 13 mar.
1894. [sob pseudónimo Ruy Xavier]. Bijapur. A Leitura: magazine litterario III (1.º ano): 99-124.
1894. [sob pseudónimo Ruy Xavier]. Matheran. A Leitura: magazine litterario III (1.º ano): 255-263.
1914. A conquista da Índia. Revista de Historia 12: 300-317. 

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última atualização em janeiro de 2021