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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

António Pereira de Paiva e Pona (Lisboa, 1849 – Lisboa, 1899)

António Pereira de Paiva e Pona
Fotografia, datando de cerca de 1889, extraída do Álbum n.º 3 de fotografias de oficiais da Marinha Portuguesa , página 13, n.º de ordem 40. © Biblioteca Central de Marinha – Arquivo Histórico, https://arquivohistorico.marinha.pt/viewer?id=16072&FileID=9520. Cortesia da Biblioteca Central de Marinha – Arquivo Histórico.
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António Pereira de Paiva e Pona frequentou, no ano letivo de 1870-1871, o Curso Superior de Letras, onde foi aluno do arabista Augusto Soromenho e onde não terá passado dessa primeira matrícula. Entretanto, mudou-se para o Porto para cursar na Escola Médico-Cirúrgica e, em 1883, ingressou como oficial na Marinha Portuguesa. Médico de 1.ª classe, participou em diversas missões que o levaram aos territórios do império colonial português, sobretudo em África. 

Em 1880 tornara-se sócio da Sociedade de Geografia Lisboa, onde travou amizade com Luciano Cordeiro e contacto com Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo, também eles oficiais de Marinha, em cujo relatório De Angola á Contra-Costa (1886) veio a colaborar. É a partir desta colaboração que começa a publicar no âmbito das questões africanas. Em 1890, assinou o artigo “Os campos d’ouro” sobre o Monomotapa, no Boletim da Sociedade de Geografia, que foi traduzido, no ano seguinte, para Francês pelo vice-cônsul de Portugal em Cádiz, António de Portugal de Faria (1868-1937).

O Império do Monomotapa foi um dos temas que Paiva e Pona levou ao X Congresso Internacional de Orientalistas, agendado para Lisboa em 1892. Embora o evento não tenha tido lugar, o trabalho que então preparou veio a ser publicado pela Imprensa Nacional sob os auspícios da Sociedade de Geografia de Lisboa: Dos Primeiros Trabalhos dos Portugueses no Monomopata: o padre D. Gonçalo da Silveira, 1560. A par deste texto mais extenso, preparou e publicou mais dois no Boletim da Sociedade de Geografia sobre outros espaços orientais, a saber: “O clima de Tanger no tratamento da tisica pulmonar” e uma tradução parcial das viagens do veneziano Aloigi di Giovanni, “Duas viagens de Aluigi de Giovani, veneziano, a Calecut, nos annos de 1529 a 1532”. No primeiro trabalho, tematicamente ligado à sua formação médica e em linha com a dissertação que apresentara em 1882 à Escola Médico-Cirúrgica, revela ter-se correspondido com José Daniel Colaço, cônsul português em Tânger, que no verão de 1883 o acolheu no seu lar na Serra de S. João, naquela cidade marroquina. Já a tradução dá conta da presença portuguesa na Ásia de Quinhentos; os episódios selecionados para tradução fazem originalmente parte da coletânea de viagens de autores italianos organizada por Antonio Manuzio (1511-c. 1559) em 1543, Viaggi fatti da Venetia, alla Tana, in Persia, in India, et in Costantinopoli con la descrittione particolare di città, luoghi, siti, costumi, & della Porta del Gran Turco & di tutte le intrate, spese, & modo di governo suo, & della ultima impresa contra Portoghesi. Sete anos antes, em 1885, Paiva e Pona traduzira o texto anónimo “Viaggio et impresa che fece Soleyman Bassà del 1538 contra Portoghesi per racquistar la città di Diu in India”, último da compilação de Manuzio, sob o título “Expedição turca para a reconquista de Dio em 1538”. 

O nome de Paiva e Pona figurava também como membro do comité executivo do malogrado Congresso de Lisboa, na qualidade de secretário, sendo, na altura, o vice-presidente da secção de Geografia Histórica da Sociedade de Geografia. No início do ano de 1892, por portaria de 29 de janeiro, Paiva e Pona passara a médico interino do Hospital da Marinha, de que veio a ser subdiretor em 1893.

António Pereira de Paiva e Pona terá deixado dois filhos, Leonor Ângela Bandeira de Paiva e Pona e o futuro engenheiro Afonso Henrique Bandeira de Paiva e Pona, frutos do casamento com Amélia Augusta Caldas Bandeira, com quem terá contraído matrimónio a 28 de outubro de 1885, na cidade do Porto, onde viveu grande parte da sua vida.

 

Bibliografia selecionada do autor

1882. Geomedicina (considerações sobre a necessidade da sua applicação ás colónias portuguesas). Dissertação inaugural apresentada e defendida perante a Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Porto: Typ. de Arthur José de Souza & Irmão.
1885. Expedição turca para a reconquista de Dio em 1538. 
Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa 9 (5.ª série): 529-537.
1890. Os campos d’ouro. 
Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa 9 (7): 335-362.
1892. 
Dos Primeiros Trabalhos dos Portuguezes no Monomotapa: o padre D. Gonçalo da Silveira, 1560. Memória apresentada à 10.ª sessão do Congresso Internacional dos Orientalistas. Lisboa: Imprensa Nacional/Sociedade de Geografia de Lisboa. Disponível em https://archive.org/details/dosprimeirostra00silvgoog.
1892.
 Duas viagens de Aluigi de Giovani, Veneziano, a Calecut nos annos de 1529 a 1532. Traduzidas do livro: Viaggi fatti da Vinegia alla Tana, in Persia, in India et in Costantinopoli, aldus. In Vinegia M. D. XLIII por Antonio Pereira de Paiva e PonaBoletim da Sociedade de Geografia de Lisboa 11 (9): 633-649.
1892.
 Geographia medica. O clima de Tanger no tratamento da tisica pulmonarBoletim da Sociedade Portuguesa 11 (9): 651-669. 
1894. 
Talant de bien faire: o Infante D. Henrique. Biographia do Infante. [Desenho original do pintor Júlio Costa.] Número único comemorativo das festas do 5.º centenário do nascimento do Infante D. Henrique na cidade do Porto. Porto: Typ. Occidental.  

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última atualização em maio de 2020