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Textos e Contextos
do Orientalismo Português

José Maria Rodrigues (Valença do Minho, 1857 - Lisboa, 1942)

José Maria Rodrigues
© 1912. Illustração Portugueza 315 (4 de mar.): 312, http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/ 1912/N315/N315_item1/P26.html.
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Filólogo, camoniano e teólogo, José Maria Rodrigues iniciou o seu percurso académico na Universidade de Coimbra, mas foi na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa que o consolidou.

Ingressou na Universidade de Coimbra em 1878, onde começou por estudar Direito, mudando para Teologia em 1881, área na qual se licenciou em 1886. Dois anos mais tarde doutorou-se em Teologia e foi nomeado lente na mesma universidade, passando, em 1890-1891, a reger a cadeira de Hebraico. A este propósito publicou, em 1892, o artigo "Nota sobre o ensino do Hebreu em Portugal na actualidade". Para além da língua hebraica, dominaria também as línguas latina, grega, francesa e alemã, de que chegou a fazer traduções. Na Universidade de Coimbra exerceu também as funções de capelão e bibliotecário, esta última entre 1894 e 1900, assim como de secretário da Faculdade de Teologia. Em 1894 interrompeu a docência universitária para colaborar na reforma do ensino secundário de Jaime Moniz, vindo depois a assumir a direção da reitoria do Liceu de Lisboa (atual Liceu do Carmo) por volta de 1894 até 1902. 

É com a afiliação da Universidade de Coimbra que José Maria Rodrigues consta da lista de membros tanto do IX Congresso Internacional de Orientalistas, que, presidido por Max Müller, teve lugar em Londres em 1892, como do X Congresso, não o de Lisboa, que foi desconvocado de véspera, mas o de Genebra, em 1894. Em ambos os eventos foi marcado como ausente, pelo que o seu nome não surge associado a qualquer intervenção oral nesse contexto científico.

A convite do rei D. Carlos, José Maria Rodrigues foi precetor do príncipe D. Luís Filipe e do então infante D. Manuel. Na palestra “As minhas viagens através e em volta de Os Lusíadas”, dá conta de que foi durante o exercício dessa função que iniciou a sua especialização no estudo da obra camoniana; ao príncipe D. Luís Filipe dedicou a publicação Camões e a Infanta Dona Maria, em 1910. Desenvolveu, com efeito, uma vasta obra dedicada aos estudos camonianos, considerando Os Lusíadas como “o livro sagrado da Pátria, o livro em cuja meditação se deve formar e avigorar a alma nacional” (Rodrigues 1925, citado em Prado Coelho 1966, 24). Grande parte desses estudos está publicada na revista O Instituto, em que colaborou ativamente, na qualidade de sócio efetivo do Instituto de Coimbra desde 1889.

Em 1900, tornou-se sócio ordinário da Sociedade de Geografia de Lisboa, com o número 4627, por proposta de David Lopes, Luciano Cordeiro e Luís Diogo da Silva. Em 1902 foi nomeado professor do Curso Superior de Letras, tomando posse a 3 de janeiro. Começou como docente de Filologia Latina, acabando por lecionar todas as matérias no âmbito da Filologia Clássica. Em 1911 integrou o corpo docente da recém-criada Faculdade de Letras. No ano letivo de 1915/1916, foi selecionado pela Faculdade de Letras para estudar os Arquivos do Vaticano e neles recolher materiais que documentassem as relações de Portugal com a Cúria Romana.

José Maria Rodrigues foi sócio fundador da Sociedade de Bibliófilos Barbosa Machado, constituída a 30 de janeiro de 1908, juntamente com Mendes dos Remédios, Ramalho Ortigão e Eugénio de Castro, entre outros, assim como sócio correspondente da Academia da Língua de Madrid e da Academia Brasileira de Letras. Em 1912 foi eleito sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, em 1920 passou a sócio efetivo na Classe de Letras, Secção de História e Arqueologia, e veio a desempenhar os cargos de vice-presidente e presidente da Classe de Letras, tendo sido eleito para o último em 1923 e reeleito em 1925. Em 1935 foi eleito sócio emérito da Academia. Presidiu, com José Leite de Vasconcelos, a comissões linguísticas e participou nas comemorações da Academia relativas aos centenários de Ceuta e Albuquerque (1915). Jubilou-se em 1927, sendo à altura titular da cadeira de Língua e Literatura Gregas na Faculdade de Letras de Lisboa, e dedicando-se então à cátedra de estudos camonianos, criada em 1924. José Maria Rodrigues foi ainda diretor do Centro de Estudos Filológicos da Universidade de Lisboa, atual Centro de Linguística.

Ao longo da sua carreira, colaborou em diversas revistas nacionais, como Lvsitania, Portvcale e Biblos. Colaborou também com a publicação brasileira Revista de Língua Portuguesa, dirigida por Laudenino Freire. Apesar de escrever e publicar sobretudo em Português, o seu trabalho não deixou de ser lido e reconhecido fora de fronteiras nacionais, como se infere pelas recensões que suscitou em periódicos internacionais como La Géographie, Bulletin hispanique, The Romanic Review, Romania, Bulletin de la Société de géographie de LilleMercure de France, Zeitschrift für romanische Philologie, entre outros.

 

Bibliografia selecionada

1905. Fontes dos Lusíadas. Coimbra: Imprensa da Universidade. [2.ª edição em 1979 com prefácio de Américo da Costa Ramalho. Lisboa: Academia das Ciências]
1910. Camões e a Infanta Dona Maria. Sep. O Instituto. Coimbra: Imprensa da Universidade.
1921. Os Lusíadas, de Luís de Camões.  Reimpressão “fac-similada” da edição de 1572 d’Os Lusíadas. Introdução e edição crítica de José Maria Rodrigues e Afonso Lopes Vieira. Lisboa: Tip. da Biblioteca Nacional.
1925. Lição Inaugural da Cadeira de Estudos Camonianos. Coimbra: Imprensa da Universidade.
1929. A Dupla Rota de Vasco da Gama em “Os Lusíadas”, V, 4-13 e as Objecções do Sr. Almirante Gago Coutinho. Sep. Biblos. Coimbra: Coimbra Editora.
1930. Camões: a crise amorosa de Ceuta e as suas consequências. Sep. Portvcale III (16-17-18). Porto: Porto Gráfica do Porto.
1931. Introdução aos Autos de Camões. Coimbra: Imprensa da Universidade
1933. O Périplo de Hanão e o seu Primeiro Comentador. Sep. Homenagem a Martins Sarmento. Guimarães: [s.n.], 353-354.
1892-1893. Nota sobre o ensino do Hebreu em Portugal na actualidade. O Instituto: revista scientifica e litteraria XL: 310-317.

 

CS e EVM
última atualização em outubro de 2019